(A pedido de um aluno, trouxe esta postagem "mais pra perto"... Pronto, Vinícius, agora está mais fácil)
Já falamos sobre o que é a VÍRGULA e a importância de sua utilização na construção do sentido textual. Ressaltamos, sobretudo, a necessidade de conhecer quais são as convenções de uso, uma vez que se trata de uma questão sintática, e não apenas de "uma pausa para respirar".
Eis mais um dos casos em que o emprego da vírgula é sintaticamente obrigatório:
USA-SE A VÍRGULA ANTES DE CONJUNÇÕES ADVERSATIVAS
USA-SE A VÍRGULA ANTES DE CONJUNÇÕES ADVERSATIVAS
(MAS, PORÉM, TODAVIA, CONTUDO, NO ENTANTO, ENTRETANTO)
De uma maneira bem simples, conjunções são aquelas palavrinhas que servem para fazer a conexão entre orações ou termos de uma mesma oração. É como se fossem as juntas ou as articulações do corpo linguístico, dando a flexibilidade necessária à construção do sentido que desejamos dar ao texto. As conjunções adversativas, por sua vez, servem para expressar o sentido de oposição, de contrariedade ou de adversidade entre um argumento e outro.
A respeito desse assunto, existem algumas particularidades que considero curiosas:
1. Independentemente da extensão ou do peso do argumento exposto numa frase, uma única conjunção adversativa tem o poder de desmerecer, anular, levar a nocaute o que fora dito anteriormente. E não é só isso, além de pôr por terra a argumentação anterior, a tendência é que nossa mente fixe a última fala como sendo a mais contundente ou importante. Assim, semelhante a "quem ri por último, ri melhor", as conjunções adversativas fazem com que o argumento exposto por último pareça mais forte que o anterior. Observe:
- "Fez o relatório, anexou os documentos, preparou os slides, mas esqueceu tudo em casa!"
- "A prova estava realmente difícil, a concorrência muito alta, porém conseguiu ser aprovada."- "Acordava de madrugada, trabalhava feito um louco, todavia o esforço não foi suficiente." - "É jovem, bonito, saudável, tem oportunidades, contudo não se interessa pelos estudos."
- "Idosa, debilitada, com dificuldade de locomoção, no entanto seu otimismo inspira a todos."
- "Sozinho na cidade grande, sem apoio, entretanto conseguiu estudar e dar a volta por cima."
2. As adversativas, ou melhor, o mas especificamente, é uma das conjunções mais populares na linguagem do dia-a-dia (aliás, não raras vezes é confundida com a parônima "mais", que indica acréscimo, e que não tem nada que ver com a história). Até aí, tudo bem. O problema é que, na maioria das vezes, o uso recorrente do mas pode ser um forte indício da infelicidade ou do pessimismo, camuflados no coração de muita gente por aí... Isso porque há pessoas que sempre insistem em colocar o que há de ruim, de negativo, por menor que seja, na frente do que existe ou poderia existir de bom nas situações da vida.
Que tal. sem querer, ouvir alguém descrevendo o almoço que você ofereceu com tanto carinho:
"Ah, o churrasco estava uma delícia, a bebida gelada, o pessoal era muito divertido, mas em compensação o arroz não tinha um pingo de sal!"
Percebe o efeito destrutivo que a ordem dessa argumentação pode causar? Nela é realçado o aspecto negativo que, embora pequeno diante do todo, agiganta-se e acaba desmerecendo o que houve de muito bom na situação dada. Para ser bem sincera, uma fala dessas pode pôr fim à gentileza e à boa vontade de qualquer anfitrião.
Ficaria menos ingrato e pessimista se os argumentos fossem colocados na ordem inversa:
"Ah, o arroz não tinha um pingo de sal, mas em compensação o churrasco estava uma delícia, a bebida gelada e o pessoal era muito divertido!"
É possível afirmar que com o decorrer do tempo um círculo inevitável de palavra-pensamento-ação vai se formando em nossa vida e padrões de comportamento vão se petrificando, embora nem sempre tenhamos consciência disso. As opções que fazemos vão definindo a visão que temos de nós mesmos e dos outros, o que acaba se refletindo na linguagem que usamos. E assim vamos vivendo: "a boca fala do que está cheio o coração" e o coração vai se alimentando dos padrões de pensamento que vamos construindo...
Só sei que as adversidades, pequenas ou grandes, são inerentes à vida, quanto a isso não há escolha. Não é à toa que existem mil maneiras de expressarmos linguisticamente os revezes que enfrentamos - só conjunções existem seis! Contudo, cada pessoa é quem decide que tipo de argumento terá a supremacia em sua mente, em sua fala e na relação com as pessoas.
Fico pensando... o fato de termos que colocar vírgula antes das conjunções adversativas pode muito bem sugerir-nos uma pausa ante às adversidades que enfrentamos, um rápido momento para decidirmos se as ressaltamos ou se as enfraquecemos em nossa mente e em nossas palavras - este, siim, é um difícil e necessário aprendizado!!
Só sei que as adversidades, pequenas ou grandes, são inerentes à vida, quanto a isso não há escolha. Não é à toa que existem mil maneiras de expressarmos linguisticamente os revezes que enfrentamos - só conjunções existem seis! Contudo, cada pessoa é quem decide que tipo de argumento terá a supremacia em sua mente, em sua fala e na relação com as pessoas.
Fico pensando... o fato de termos que colocar vírgula antes das conjunções adversativas pode muito bem sugerir-nos uma pausa ante às adversidades que enfrentamos, um rápido momento para decidirmos se as ressaltamos ou se as enfraquecemos em nossa mente e em nossas palavras - este, siim, é um difícil e necessário aprendizado!!
Oi Menina,
Que interessante! Aprendi muito com essa texto! Sempre tive a tendência de usar o "mas" com ênfase negativa, sem me dar conta disso... Vou começar a me policiar, para romper com esse padrão que não é bom.
Bom mesmo foi essa leitura que acabei de fazer. Você está de parabéns por esse belo texto e eu também, pelo meu aniversário (rs).
Escreva mais!!!!
O aniversariante é você, mas quem ganhou o presente hoje fui eu... As palavras me tocam profundamente, você sabe disso.
Um bj, com amor.
Fantástico!
É a primeira vez que percebo que uma lição de gramática pode acabar se transformando em uma lição de vida.
Continue escrevendo.
Valeu, Cleiton!
Um abraço!
Nossa!
Nunca tinha reparado na questão do "mas". Como a ordem dos argumentos pode alterar bastante o sentido da frase!Vou procurar me manter atenta à isso!!! =D
Gostei muito do post, uma aula!!! =D
Lindo o blog!
Beijos
Que legal receber a visita de uma jornalista!!! Um bj, Mi!!
O comentário sobre pontuação foi postado na referencia da vírgula anterior. desculpe, ¨mas¨também faz sentido.
Gostei
Faz, sim, Altamirando! Muito bem-humorado, gostei!
Belo texto, bela lição de comunicação otimista! Isso tudo além de ser gramática é homilético. Eureca! GGabliel.
Valeu, Gê! Passe esse otimismo a outros. Abração!
Eu descordo! =D
Eu uso muito a conjugação adversativa "MAS" e uso maioria das vezes para coisas boas...
Danielle disse que não poderia viajar comigo, mas eu tive uma viagem maravilhosa com meu amigo que se tornou meu namorado! =D
Quando começamos uma oração com "entretanto", a vírgula posterior é obrigatória?
Ex:
Entretanto, não consegui fazer.
obrigada