Não faz muito tempo, a expressão "risco de vida" começou a ser olhada com certa estranheza e desconfiança, sendo finalmente declarada como "incorreta" por consultores de linguagem e cristalizada pela mídia impressa e virtual. A justificativa é a (pretensa) falta de lógica, já que a relação vida-risco configura-se contraditória: quem está vivo não corre o risco de ter a vida, mas de perdê-la. Sob essa ótica, a expressão "risco de morte" parece mais coerente.
No entanto, o que não se leva em consideração nessa análise é que a língua tem suas peculiaridades e, de certa forma, sua própria lógica. No caso em questão, a expressão "risco de vida", usada há tanto tempo e perfeitamente compreendida por seus falantes, pode ser explicada pelo fenômeno denominado elipse, que consiste na omissão de um termo ou expressão facilmente entendidos pelo contexto. Na verdade, consiste numa forma de economizar palavras, um comportamento bem típico de nossa lingua. Assim, "risco de vida" é a simplificação da expressão "risco de perder a vida".
O curioso é que na expressão considerada "correta", "correr risco de morte", também há uma elipse: "correr risco de encontrar a morte", ou melhor, duas elipses, "correr risco de encontrar o anjo da morte" - e por isso o uso do substantivo morte, e não do verbo morrer.
Em síntese, o que fica claro nisso tudo é o cuidado, a cautela que se deve ter para não se julgar, sumariamente, qualquer fenômeno da língua(gem). A existência de formas concorrentes é um fato comum em nossa e em muitas línguas ao redor do mundo, e se essa ou aquela expressão estiver sendo usada com mais frequência, que seja pela dinâmica do uso, e não pela imposição do rótulo discriminatório "certo" ou "errado", ainda bastante comum em nossa sociedade.
Assim, com relação às expressões "risco de vida" e "risco de morte", tanto uma quanto outra tem sua lógica e coerência. A opção pela primeira ou pela segunda dependerá, a meu ver, do contexto a ser usada, já que vez ou outra a situação exige que a gente acene indicando que está por dentro da "norma culta" de nossa língua...
Interessante! Sempre achei que estava cometendo um pecado mortal quando por costume acabava dizendo "risco de vida".
E quando este alguém corre o risco de viver?
Nosso linguajar:Pela manhãé o sol nasce?
ou
Pela manhã a terra se põe?
Um só nasce e o outro nunca morre?
Abraços.
Viver!... Esse é um risco que todos nós precisaríamos correr, todos os dias, quando o sol nasce! Tenho a impressão de que muitas vezes as pessoas apenas acordam e seguem o ritmo imperativo do dia, num turbilhão de responsabilidades, preocupações e inseguranças.
A meu ver, correr o risco de viver parece ser mais uma questão de atitude, e nascer o sol ou morrer o dia, aí é questão de poesia.