Edleuza

Senso crítico e preconceito: uma questão de aprendizado


Por definição, crítica e preconceito são palavras com significados muito diferentes. Crítica é o julgamento racional que se faz de algo, de alguém ou de uma situação. Já preconceito, como o próprio nome indica, trata-se de um conceito preestabelecido, um julgamento prévio destituído de bom senso, racionalidade ou ponderação.


Enquanto a crítica procura ser imparcial, analisar minuciosamente as diferentes faces do que se está em questão, o preconceito é inflexível e baseia-se em juízos de valor, favoráveis ou não, formados à priori – em consequência disso, equívocos e injustiças, bastante comuns na sociedade atual.


Tanto o senso crítico quanto a atitude preconceituosa, em maior ou menor grau, fazem parte da experiência humana. Há de se considerar, no entanto, que tanto um quanto o outro é uma questão de aprendizado – ninguém nasce preconceituoso e ninguém sai da maternidade já sabendo que armadilhas a sociedade guarda ou com que roupagens está vestida. Nesse contexto, aprender a assumir uma postura mais sensata diante das situações da vida torna-se cada vez mais necessário às relações humanas.


Saber escolher uma postura crítica dentro de uma sociedade normalmente preconceituosa, no entanto, não é um comportamento natural nem tão pouco simples. Dependerá, em grande parte, de que tipo de formação a pessoa receberá em sua vida e de quais critérios e valores serão internalizados no decorrer do tempo.


Como elementos-chave nesse processo estão a família e a escola, particularmente, se trabalharem de mãos dadas, pela palavra e pelo exemplo, no desenvolvimento do senso crítico de seus educandos. A discussão aberta sobre situações de preconceito, cotidianas ou históricas, o conhecimento mais aprofundado de elementos-alvo de discriminação social podem ampliar significativamente a concepção que se tem de questões como essas e modificar a visão equivocada e, muitas vezes, já petrificada pelo meio – como foi o caso divulgado há algum tempo pela VEJA, de uma universitária albina que, após ter sido surpreendida pela aversão e nojo com que uma comunidade tratava do albinismo numa rede de relacionamentos, começou a unir-se a outros estudantes sob a mesma condição, para esclarecer à sociedade sobre o que consiste ser uma pessoa albina.


Com efeito, a relação entre crítica e preconceito poderá assumir contornos diferentes, dependendo do quê se viveu e de quem experienciou o quê. Uma pessoa, por exemplo, que vivenciou uma situação preconceituosa e soube enfrentar o problema de forma mais ampla e racional, terá maior chance de ler a si mesmo e ao outro com maior equilíbrio e sensatez. Em contrapartida, pessoas que foram vítimas de algum tipo de preconceito, mas que não aprenderam a lidar com tal circunstância nem desvencilhar-se do trauma, estão mais propensas a somatizar experiências futuras e até a incorrer no mesmo erro de que foram vítimas. O que tende a fazer a diferença, dessa forma, não é apenas o que se viveu, em si, mas a postura que se aprendeu a ter - se crítica ou preconceituosa - diante dos fatos da vida.





Edleuza

Daqui a pouquinho faço 43 anos... Inevitável, o tempo passa para todos.


Não sei se por defesa emocional ou se por falha no sistema mesmo (depois dos 40, a gente nunca sabe!...), mas a retrospectiva da minha vida nunca vem num longa metragem, mas sempre em flashs, imagens rápidas, atemporais, ora fortes, ora meio apagadas, de momentos que aconteceram comigo. O que foi vivido - de bom ou de ruim - com intensidade volta com toda a sua força; o que não teve tanta importância assim, ou até mesmo existiu por conta própria, indiferente ao que eu estava sentindo no momento, também aparece no filme.


E aí vem aquela tendenciazinha maldita de se lamentar pelo que não foi vivido - no meu caso, pelo que não se soube viver: a oportunidade que não foi aproveitada, a prisão que demorou demaaaisss para ser aberta, a fase que não foi vivida, o tempo que não foi sentido.


Nessas horas, é que a gente percebe que depois dos 40 o amadurecimento emocional faz toda a diferença no modo como se encara o tempo e a si mesmo. Mais maduros, começamos a aceitar que o que se foi, se foi, a entender que as coisas e as pessoas que tivemos foram o que foram e do jeito que puderam ser. E mesmo com os sustos e sobressaltos pelas mudanças (físicas) típicas dessa fase, passamos a lidar melhor com a realidade da vida. Afinal, compreendemos que o marco zero é sempre o hoje, já que não dá para agir sobre o passado – agora, é só daqui pra frente...


Depois dos 40 (e aí vem um lado que eu estou achando ótimo!) a gente passa a sentir gosto por outros gostos, vê graça no que às vezes não via, adquire uma segurança que não se explica... Enfim, quando se tem mais de 40 anos o olhar sobre si mesmo tende a se tornar mais sereno, realista e despretensioso. E isso é muito bom.




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