Edleuza

Semelhante a Consuelo e Socorro, Amparo é um dos poucos nomes femininos terminados em -o. Essas três palavras têm uma relação semântica e remetem às ações de consolar, socorrer e amparar. Isso faz lembrar algo da essência materna e da nossa condição, tão humana, de fragilidade. Consolo, socorro e amparo, em algum momento da vida, todos precisamos.

Por definição*, amparar é suster para impedir de cair, escorar, dar proteção, proteger.
A imagem que me vem à mente é de uma criança, aprendendo a se equilibrar em seus primeiros passos, sob o olhar protetor de alguém.

Do ponto de vista etimológico*, amparar traz significados bem curiosos e profundos:
Amparar vem do latim, anteparo, as, avi, atum, are.
Amparo (subts. abst.) provém de amparar por derivação regressiva: aparar > amparo.
Anteparare > amparare > amparar.
Em latim, anteparare tinha o sentido de preparar de antemão, dispor com antecipação.
Vem de parare (= preparar), precedido do prefixo ante (=anterioridade).
Interessante é que amparar e amparo têm a mesma raiz de anteparar e anteparo:
Anteparar é fazer parar antecipadamente, interromper.
Anteparo é parada antecipada, interrupção, suspensão.
Assim, amparar tem, do ponto de vista aspectual, uma projeção de futuro. Antepara-se de algo que virá (ou poderá vir a ocorrer).

Fico pensando... Não é isso o que fazemos com quem amamos? Não foi isso que fizeram conosco os que nos amavam e acreditavam que conheciam o caminho? 
O que não fazemos ideia é que o caminho sempre se modifica e se conforma aos pés de quem o pisa.

Em minha vida, especialmente nos momentos mais difíceis, sempre tive o amparo necessário. E ainda tenho. E isso, verdadeiramente, não é pouco. O amparo externo sempre me veio em forma de palavras, de abraço, de afeto e de bênçãos materiais. Pessoas, dádivas, muita gratidão.

Talvez porque tenha enfrentado ultimamente situações muito desafiadoras e nunca tenha aprendido tanto quanto agora, penso que esse amparo, o de fora e não o de dentro, funciona, digamos, como um empréstimo que a vida nos dá, até adquirirmos o que realmente nos tornará fortes e seguros para andarmos com os próprios pés. 

Estou propensa a acreditar que o momento em que realmente começamos a andar é justamente quando estamos face a face com nosso próprio desamparo. É quando o apoio externo não está mais ali e você começa a entender que não se pode mais dar passos com pernas que não são suas. É você, e pronto. 

A sensação é de que não há chão, só a dor no estômago, só o abismo, e a gente se lança porque TEM que se lançar. É preciso aprender, enfim, a 
amparar(-se).





(*Fonte: Ernani Terra.)


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