Já falamos sobre o que é a VÍRGULA e a importância de sua utilização na construção do sentido textual. Ressaltamos, sobretudo, a necessidade de conhecer quais são as convenções de uso, uma vez que se trata de uma questão sintática, e não apenas de "uma pausa para respirar".
USA-SE A VÍRGULA ANTES DE CONJUNÇÕES ADVERSATIVAS

A respeito desse assunto, existem algumas particularidades que considero curiosas:
1. Independentemente da extensão ou do peso do argumento exposto numa frase, uma única conjunção adversativa tem o poder de desmerecer, anular, levar a nocaute o que fora dito anteriormente. E não é só isso, além de pôr por terra a argumentação anterior, a tendência é que nossa mente fixe a última fala como sendo a mais contundente ou importante. Assim, semelhante a "quem ri por último, ri melhor", as conjunções adversativas fazem com que o argumento exposto por último pareça mais forte que o anterior. Observe:
- "É jovem, bonito, saudável, tem oportunidades, contudo não se interessa pelos estudos."
- "Idosa, debilitada, com dificuldade de locomoção, no entanto seu otimismo inspira a todos."
2. As adversativas, ou melhor, o mas especificamente, é uma das conjunções mais populares na linguagem do dia-a-dia (aliás, não raras vezes é confundida com a parônima "mais", que indica acréscimo, e que não tem nada que ver com a história). Até aí, tudo bem. O problema é que, na maioria das vezes, o uso recorrente do mas pode ser um forte indício da infelicidade ou do pessimismo, camuflados no coração de muita gente por aí... Isso porque há pessoas que sempre insistem em colocar o que há de ruim, de negativo, por menor que seja, na frente do que existe ou poderia existir de bom nas situações da vida.
Que tal. sem querer, ouvir alguém descrevendo o almoço que você ofereceu com tanto carinho:
Percebe o efeito destrutivo que a ordem dessa argumentação pode causar? Nela é realçado o aspecto negativo que, embora pequeno diante do todo, agiganta-se e acaba desmerecendo o que houve de muito bom na situação dada. Para ser bem sincera, uma fala dessas pode pôr fim à gentileza e à boa vontade de qualquer anfitrião.
Ficaria menos ingrato e pessimista se os argumentos fossem colocados na ordem inversa:
Só sei que as adversidades, pequenas ou grandes, são inerentes à vida, quanto a isso não há escolha. Não é à toa que existem mil maneiras de expressarmos linguisticamente os revezes que enfrentamos - só conjunções existem seis! Contudo, cada pessoa é quem decide que tipo de argumento terá a supremacia em sua mente, em sua fala e na relação com as pessoas.
Fico pensando... o fato de termos que colocar vírgula antes das conjunções adversativas pode muito bem sugerir-nos uma pausa ante às adversidades que enfrentamos, um rápido momento para decidirmos se as ressaltamos ou se as enfraquecemos em nossa mente e em nossas palavras - este, siim, é um difícil e necessário aprendizado!!
