Edleuza
Já comentamos sobre a vírgula, aqui no blog, e os efeitos de sentido que seu uso pode provocar no texto. Um dia desses, não sei exatamente onde, me encontrei com a letra dessa música do Chico César (logo abaixo) e achei simplesmente fantástico o jogo de sentido que ele produziu!

Observe que não se trata de alguém, já velho, pedindo respeito à sua idade:
"Respeitem meus cabelos brancos",

mas de um chamamento imperativo à sensibilidade humana:
"Respeitem meus cabelos, brancos".

Nas mãos do conhecimento e da criatividade, um simples sinal de pontuação pode ser incrível!...



Respeitem meus cabelos, brancos

Chico César


Respeitem meus cabelos, brancos
Chegou a hora de falar
Vamos ser francos
Pois quando um preto fala
O branco cala ou deixa a sala
Com veludo nos tamancos


Cabelo veio da áfrica
Junto com meus santos


Benguelas, zulus, gêges
Rebolos, bundos, bantos
Batuques, toques, mandingas
Danças, tranças, cantos


Respeitem meus cabelos, brancos

Se eu quero pixaim, deixa
Se eu quero enrolar, deixa
Se eu quero colorir, deixa
Se eu quero assanhar, deixa
Deixa, deixa a madeixa balançar




Quando digo “respeitem meus cabelos, brancos”

não falo só de mim nem quero dizer só isso. Debaixo dos cabelos, o homem como metáfora. A raça. A geração. A pessoa e suas ideias. A luta para manter-se de pé e mantê-las, as idéias, flecheiras. É como se alguém dissesse “respeitem minha particularidade". É o que eu digo, como artista brasileiro nordestino descendente de negros e índios. E brancos. Ou ainda no plural: minhas particularidades mutantes. Fala-se em tolerância. Pois não é disso que se trata. Trata-se de respeito. (Chico César)

http://www2.uol.com.br/chicocesar/musica/discorespeitem.htm

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4 Responses
  1. Não respeito falso orgulho.
    Se intitulam afro-descendentes mas quando saem da favela querem se casar com brancos ou loiras, lutam para descaracterizar a raça de origem pintando ou alizando os cabelos, descolorindo a pele e por qualquer motivo se consideram vítimas de preconceito.Se ofendem se chamados de pretos, negros ou africanos num país onde há normalidade chamar alemão, japonês, índio ou gringo.Se ofendem mas aceitam ser cotista caracterizando a auto-inferiorização.
    Não respeito falso orgulho.


  2. Edleuza Says:

    Oi, Altamirando,

    certamente essas são questões bastante delicadas e controversas... Mas o que me fascinou aqui foi a questão da linguagem, a mudança de sentido que uma única vírgula pôde provocar no texto.

    Abração!


  3. Edleuza, eu entendi sua proposta,até por que já estou acostumado com sua epiritualidade e a parabenizo pr isto. Postei com estes termos alfinetando a hipocrisia dissimulada do Chico César.A quem, entre outros, eu não respeito.Pena que foi no lugar e hora errada. Desculpe.

    Abraços.


  4. Edleuza Says:

    Nada disso, as alfinetadinhas são muito bem-vindas também. Venha e fique à vontade.
    Também tenho minhas aversões... mas já me peguei sendo meio intransigente alguma vezes, daí prefiro ficar no texto pelo texto, no prazer da linguagem. Liga não!


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