Muita gente diz que detesta Língua Portuguesa. "Ah, é muito difícil..." - justificam-se, e passam a vida nutrindo verdadeira antipatia por acentuação gráfica, ortografia... e tudo quanto é sinal de pontuação.
Bom, que essa nossa língua é riquíssima, multifacetada e cheia de peculiaridades, não dá pra negar, no entanto, chegar ao ponto de odiá-la, aí já é demais! (Acho que psicoterapeutas especializados na solução desse drama devem estar tendo uma boa clientela...)
Como lembra muito bem a professora Gerusa, no campo do conhecimento temos a tendência de não gostar daquilo que não sabemos. A partir do momento que passamos a entender o porquê das coisas, a relação fica, senão apaixonante, pelo menos mais amistosa.
É o que acontece com o uso da vírgula: à medida que vamos nos aproximando mais dela, olhando-a melhor nos olhos, conhecendo-a mais de perto... vamos compreendendo a importância de sua presença para a produção de sentido na comunicação escrita.
Veja só como é simples mais esse caso de uso obrigatório:
USA-SE A VÍRGULA PARA INDICAR A SUPRESSÃO DE UMA PALAVRA (GERALMENTE O VERBO) OU DE UM CONJUNTO DE PALAVRAS
Alguns exemplos práticos: Ele gosta de sorvete e eu gosto de chocolate.
Ele gosta de sorvete e eu, de chocolate.
- Paulo, você leva os violinos; Júlia leva as partituras.
- Paulo, você leva os violinos; Júlia, as partituras.
Notou que a vírgula evita a repetição de palavras e simplifica a situação? (Pra ver que nem tudo que é "feminino" é tão "complicado" assim...)
Essa regrinha de pontuação me fez lembrar de um poema linnndo, escrito por uma amiga minha, quando ainda fazíamos faculdade:
Duas partesUma
é o desenho do vento
Outra,
o mar em movimento
Uma
é asas nas mãos
Outra,
flor, singela, em botão
Uma
é arco-íres desbotado
Outra,
brilho intenso, sol dourado
Uma
é ilha perdida
Outra,
encontro, idas e vindas
Uma
é
Outra
quando as duas se encontram e formam o meu EU.
(Márcia Martins dos Santos - Letras, 1993)
é o desenho do vento
Outra,
o mar em movimento
Uma
é asas nas mãos
Outra,
flor, singela, em botão
Uma
é arco-íres desbotado
Outra,
brilho intenso, sol dourado
Uma
é ilha perdida
Outra,
encontro, idas e vindas
Uma
é
Outra
quando as duas se encontram e formam o meu EU.
(Márcia Martins dos Santos - Letras, 1993)
No poema, "quando as duas partes se encontram" a vírgula não aparece. Interessante!
É curioso e lindo: sem vírgulas, sem reticências, sem hiatos. É a dualidade, tão inerente ao eu e à vida.
Um bj!