Em minha casa, lá da infância, sempre fomos “nós” – pela subsistência, pelo trabalho, pelos estudos. Pai operário, mãe, cinco filhos. Todos nós começamos a trabalhar ainda adolescentes e soubemos, desde cedo, que o único caminho para quebrar o ciclo da pobreza seria estudar e estudar e estudar.
Com quase nada de recursos e
muitas dificuldades, seguimos. Trabalho e estudo sempre somaram a mesma conta, responsabilidade e persistência eram palavras obrigatórias em nosso
vocabulário. Cada um, a seu tempo, foi abrindo as portas que puderam ser
abertas. Fizemos graduação e depois pós, mesmo alguns com filhos e
trabalhando em tempo integral.
E a vida seguiu seu curso. Hoje,
os filhos dos filhos de nossos pais podem vivenciar outra realidade e ter muito
do que não tivemos. À segunda geração também foi ensinado o caminho da escola, alguns já se (pós)graduaram e continuam estudando.
Independentemente de tudo, estudar
sempre exerceu um fascínio em mim. Vontade de saber sobre tanta coisa,
especialmente no que se refere à língua, linguagem, comunicação, comportamento
humano. Na verdade, tudo me encanta! Ou melhor, me encantava, até começar a
compreender que quem tem a pretensão de saber sobre tudo acaba não sabendo (profundamente)
sobre nada.
Sempre que tenho a oportunidade
de entrar numa sala de aula para aprender algo, é uma alegria enorme. Volto no
tempo. Vem, nesse momento, uma vontade imensa de ter uns trinta anos a menos e
muito conhecimento a mais.
Acho admirável quando uma pessoa
percebe, bem cedo, o valor que o conhecimento tem e se lança nesse universo com
afinco, subindo degrau após degrau, até o nível mais alto do saber. Há os que
defendem a ideia de que o aluno vá até certo nível (mestrado, por exemplo), depois
dê um tempo da academia, para que possa adquirir um pouco de maturidade, e só
depois venha a continuar. Certamente esse ponto de vista tem sua coerência, e
respeito, não vou discutir isso aqui. Mas, a meu ver, é nesse “bem cedo” que se
tem energia e vitalidade de sobra para encarar os desafios que uma boa formação
pressupõe: horas e horas de leitura, pesquisa, aulas, eventos, publicações. É no
“bem cedo” que, em condições normais, ainda se pode ser dono do seu tempo e de
si - se preciso for, pode virar noite, emendar com o dia, e mais um dia, para
dar conta de alguma urgência acadêmica e tudo bem.
Para ser sincera, se pudesse
falar para alguém que está começando, eu diria “emende”! Aproveite esse tempo
único e especial, mergulhe nos estudos enquanto a vida ainda é (praticamente)
só sua. Faça graduação, mestrado, doutorado, pós-doutorado... Siga o fluxo, não
pare – é meio alucinante, mas siga. Porque a pausa pode quebrar o ritmo, dentro
do depois podem caber muitas coisas, inclusive, exatamente aquela que o
impedirá de seguir adiante.
Do lado de cá, em que o “bem cedo”
já se desfez há muito tempo e a vida anda meio arbitrária, com responsabilidades
e imposições, ainda considero uma dádiva (e uma delícia) estudar.
Inspiração essa postagem. Você tem o dom da palavra e falou tudo que gostaríamos de falar. Estudo sempre foi o maior tesouro que poderíamos conquistar e louvo a Deus pelo despertar maravilhoso que os livros nos nos causou. Grande abraço minha mana amada.