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A Paixão de Bastián

As paixões humanas são um mistério, e com as crianças acontece a mesma coisa que com os adultos. Aqueles que se deixam levar por elas não podem explicá-las, e os que não as viveram não podem compreendê-las. Alguns homens arriscam a vida para escalar uma montanha. Ninguém, nem mesmo eles, pode explicar porque o fazem. Outros se desgraçam para conquistar o coração de uma pessoa que não quer nada com eles. Outros se destroem por não saber resistir aos prazeres da mesa... ou da bebida. Alguns perdem tudo o que têm em um jogo de azar ou sacrificam tudo a uma ideia fixa que jamais poderá se realizar. Alguns acreditam que só poderão ser felizes em um lugar diferente e percorrem o mundo inteiro. E ainda outros não descansam até se tornarem poderosos. Em resumo: existem tantas paixões quanto seres humanos.

A paixão de Bastián Baltasar Bux eram os livros.

Quem não tiver passado nunca tardes inteiras diante de um livro, com as orelhas ardendo e o cabelo caído no rosto, lendo e lendo, esquecido do mundo e sem perceber que estava com fome ou com frio...

Quem nunca tiver lido à luz de uma lanterna, embaixo das cobertas, porque papai, mamãe ou alguma outra pessoa solícita apagou a luz com o argumento bem intencionado de que tem de dormir, porque amanhã precisa levantar bem cedinho...

Quem nunca tiver chorado aberta ou dissimuladamente lágrimas amargas porque uma história maravilhosa acabou e era preciso se despedir dos personagens com os quais tinha corrido tantas aventuras, que amava e admirava, pelo destino dos quais temera e rezara e sem cuja companhia a vida pareceria vazia e sem sentido...

Quem não conhecer tudo isso por experiência própria, provavelmente não poderá compreender o que Bastían fez então.

(ENDE, M. La historia interminable. Madrid: Alfaguara, 1982. In: SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6ª ed. Porto Alegre: Penso, 2012, p. 12.)

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