Edleuza

Com frequência, noticiários mostram que existem vagas no mercado de trabalho, mas que falta gente qualificada. Isso, em decorrência de uma educação deficitária, desde as séries iniciais até (pasmem!) alguns cursos de graduação.

Recém chegada de uma boa experiência na rede particular de ensino e conhecendo mais de perto a realidade da escola pública atual, só posso dizer que fico emocionada quando vejo alguns alunos do ensino público fazendo planos, estudando por iniciativa própria, se esforçando, pedindo ajuda para entender esse ou aquele conteúdo.

Ao contrário do que alguns possam estar pensando, essa emoção toda não é porque eu os considere "coitados", e muito menos vítimas sociais. Em relação a questões materiais, por exemplo, nosso aluno do município de SP tem tudo o que precisa, gratuitamente, desde o caderno e o lápis até a alimentação diária (almoço mesmo, com pratos fartos, variados e substanciosos). Os livros didáticos que usam são os mesmos de renomadas escolas da rede privada - e que os pais "de lá" pagam bem caro por eles.

A questão, portanto, não é material, não tem essa de "eles podem e eu não". Seria no mínimo injusto afirmar que essa tal educação deficitária é decorrente (apenas) da falta de condições financeiras. Não é preciso ser grande observador para constatar que a questão é muito mais séria e complexa.

Na verdade, já faz algum tempo que vem ocorrendo uma inversão de valores e de perfis em nossas salas de aula: antes, os desinteressados, baderneiros, "maus alunos" eram a minoria; hoje, não estudar, não levar a sério, não respeitar, ser bad boy é que se tornou comum, e os que estudam são exatamente uma pequena parcela da classe.

A meu ver, a grave situação da escola pública nada mais é do que o reflexo de um problema social bem mais profundo e grave: a falta de família - família (lembra?), aquelas pessoas que muitos de nós tivemos durante a vida, que nos acompanharam, nos transmitiram valores, nos apoiaram, mas que também souberam nos ensinar respeito, limites e cidadania... Com a falta de família e sob um sistema de (des)educação que ensina a passar para a série seguinte sem mérito, não é de se admirar que os níveis de conhecimento se revelem escandalosamente baixos sociedade afora...


Assim, quando vejo algum aluno dessa incrível minoria estudando, fico emocionada, e por duas razões: primeiro, por saber que, mesmo submersos nesse sistema absurdo de "aprovação continuada", ainda buscam conhecimento; e segundo, por perceber que alguns deles ainda têm mães, pais, avós, ou alguém que os eduque em casa e que dê a orientação e o apoio de que precisam para crescer intelectualmente e como seres humanos - para quem não sabe, isso é raridade hoje em dia, especialmente nas classes mais baixas.

Quando vejo alguns dos meus alunos se preparando para uma ETEC da vida, ou para abrir um horizonte mais significativo para si, cresce a esperança de vê-los se tornando ótimos e competentes profissionais. A vontade que me dá é de sair falando num alto-falante que ainda existem estudantes na escola pública! - não é isso que o jornalismo faz com fatos nada comuns??









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